terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Cegos

O governo chinês deve estar às voltas com este problema.

O excelente sistema de guias para os cegos, que se encontra em praticamente todas as vias pedestres de Beijing, não me parece que esteja a ser usufruído em proporções aproximadas ao investimento nele feito.

Ainda não vi um único cego, e a desculpa de que os chineses matam os cegos como matam os velhos (como é mito em Portugal) não me parece viável. O sistema de guias foi feito para ser utilizado, e por isso é necessário criar uma comunidade de cegos suficientemente grande para aumentar o fluxo de pessoas a utilizarem estas vias.

Sugiro então criar empregos para atrair mão-de-obra cega estrangeira ou promover a cegueira junto do povo chinês. Se já se promoveu a natalidade feminina, porque não incentivar também os jovens casais a conceberem filhos invisuais? Ou então recorrer aos milagres da ciência genética.

Qualquer ideia será bem-vinda para aumentar o fluxo de pessoas a utilizarem estas vias pedestres que parecem ter sido desenhadas prevenindo já algum desastre de estilo saramaguiano. Se todo o mundo cegasse, Beijing sobreviveria.

Os para-olímpicos devem ter achado o máximo.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Música

Depois de alguns anos a demonstrar, sem pudor, um imenso repúdio por tudo o que tivesse relacionado com tunas (o facto de tuna ser "atum" em inglês também me provoca um certo asco, por uma iguaria que tanto aprecio ver-se inocentemente associada a uma tradição que me enerva - quando vejo uma lata de tuna dá-me um arrepio na espinha, um conflito de emoções), tenho agora a infelicidade de me aperceber que poderia ter sido de alguma maneira útil associar-me a um desses gangs de geeks.

Relembro-me de no meu primeiro ano de faculdade ter acompanhado uma amiga a uma audição e, por arrasto, ser igualmente avaliado em dotes musicais (guitarra) e vocais. A experiência, especialmente a segunda, não foi boa. Ainda mais agravante o facto de, mesmo com uma prestação medíocre [eufemismo grandinho (eufemismo)] eu ter sido convidado para integrar a tuna, o que não abona nada a favor dessa instituição, em termos de qualidade.

Nas aulas de mandarim apercebo-me que, com alguma insistência na parte vocal, provavelmente ser-me-ia agora mais fácil reproduzir os 4 tons da língua de Mao Tse-Tung. Mas será que perder alguns anos a ouvir "mulher gorda a mim não me convém", obter uma alcunha rídicula, vestir-me com uma capa preta, tocar pandeireta e rodear-me de miúdas feias (mesmo sem traje) era compensado posteriormente com uma maior facilidade em aprender uma língua?

NÃO.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Descanso


Os bancos e assentos públicos na China só servem praticamente como motivos decoratórios.

É fácil ir a passear na rua e encontrar chineses de cócoras, como se tivessem a largar um tronco de Natal ali mesmo no meio do passeio. Mas não, estão apenas a descansar, provavelmente à espera de alguém ou alguma coisa, e decidem dispender esse tempo numa posição um pouco mais confortável. Não tem nada de mal, não incomoda ninguém e é prático.

Dormir em pleno Mcdonalds é que já me cheira um pouco a um sentido prático demasiado extremista. Principalmente quando o restaurante está cheio e é complicado encontrar mesa.

O passo seguinte passa por fazerem a sesta de cócoras no meio da rua. Assim há espaço para todos.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

6ª feira, 13

Para algumas pessoas que não sabiam. Aqui neste terra os elevadores muitas vezes não têm os andares 4 e 13. O primeiro porque é número de azar para os chinas, e o segundo porque representa mais ou menos o mesmo para os gringos.

Acho uma verdadeira mariquice. Além disso, o número 13 não representa nada para eles, se querem mostrar algum respeito por nós preferia que abdicassem dos escarros na via pública.

Felizmente, a globalização não atura muito este tipo de crenças populares, e não tarda nada os chineses vão começar a ter mais medo dos filmes do Vin Diesel que de um mero e inofensivo número.

A mim, índividuo extremamente bem globalizado, os números, excluindo os das notas, não me afectam especialmente. Por isso posso dizê-lo sem pudor que hoje, dia 13 de Fevereiro, 6ª feira, vai ser a desgraça.

Escrevam o que eu digo!

Esqueçam, eu já escrevi.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O cabeleireiro mágico

Hoje fui cortar o cabelo.

Há saída do cabeleireiro uma senhora chinesa convidou-me, segundo deu para entender pelos gestos, a ir para a cama com ela.

Fiquei na dúvida. Será que o meu corte de cabelo ficou assim tão espectacular?

Não me parece, mas a sensação agrada-me.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Burrice: uma ameaça para a espécie

Uma coisa que me consegue irritar profundamente é verificar que em Portugal ainda existe uma concentração muito grande de conservadorismo irracional e preconceituoso, apesar de já o saber de antemão.

Expressões como "anti-natura" são muito utilizadas para justificar uma posição aversa ao casamento homossexual. Suponho que essas pessoas se alimentam exclusivamente de produtos naturais, curam-se com medicamentos naturais, utilizam objectos fabricados pela natureza como a televisão e o telefone. Aposto também que odeiam mamas de silicone, qualquer tipo de cirúrgia estética, e o preservativo, esse tipo de aberrações inventadas pelo diabo, valha-nos deus.

A homossexualidade também se apresenta como uma "ameaça à sobrevivência da espécie humana", uma versão actualizada da peste-negra. A poluição e as reservas de água? Não os preocupa especialmente, podemos sobreviver sem isso. Pior mesmo é o meu filho ser panasca, os amigos e amigas dele serem panascas, e o mundo acabar por o coito ter sido substítuido por enrabanços e dildos.

Adopção? Mas o mundo está doido? Estas pessoas de repente foram iluminadas por uma preocupação enternecedora para com a educação dos petizes. Se forem adoptados por essa gente podem vir a ter vários distúrbios psicológicos, mais vale ficarem num orfanato a cheirar a merda ou a verem o pai espancar a mãe todos os dias. É uma questão numérica também: se tiverem uma mãe vão ser pessoas normais, mas se tiverem duas vão ficar confusos e vão ser gozados na escola, como os gordos.

Vou parar. Estamos no meio duma crise financeira e não é a altura certa para falar disto.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Arte ao vivo

Hoje vi uma coisa que me fascinou.

Já antes tinha reparado que a fisionomia dos chineses tem algumas diferenças em relação a nós, sendo que a ausência quase total de pelos faciais nos homens é uma delas. Diria até que algumas vezes vejo mulheres com maiores potencialidades capilares que os homens, possuidoras de um buço que faria inveja a muitos adolescentes latinos. Mas tudo isto já eu sabia ou desconfiava.

Algo que eu reparei só desde que estou cá foi no formato das caras chinesas. O típico chinês parece que levou um murro no nariz que lhe pôs a cana para dentro e projectou os olhos.

É normal logo de manhã as pessoas parecerem ter a cara inchada, mas nos chineses este facto toma proporções artísticas. Hoje estava a olhar para uma chinesa de perfil, e consegui ver-lhe os dois olhos.

A distorção da perspectiva, afinal, não é um exclusivo das artes plásticas.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Smog





Para quem pensava que o trânsito era o grande responsável pela famosa poluição de Pequim, lamento desiludir-vos.

Como prefiro, talvez por uma questão mais do foro psiquiátrico do que propriamente por fé, a teoria de que o principal responsável pelo aumento do buraco do ozono são as flatulências bovinas em detrimento das teorias mais "sem graça" (automóveis, fábricas, e adiante), e como não vejo bovinos por aqui, acredito piamente que o smog se deve às flatulências humanas que por aqui se registam.

Ainda ontem no supermercado um fulano chinês contribuiu, e de que maneira, para a destruição do mundo, sendo esta uma situação não raramente verificada por aqui.

Sendo assim ficam aqui algumas fotos a demonstrar o acumular de todas estas flatulências de quase 20 milhões de pessoas, fotos estas que foram tiradas do meu novo apartamento, também para saciar a curiosidade de algumas / poucas (riscar a primeira) pessoas interessadas.